19 de novembro de 2009

Quadro negro

Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.
Não devo NUNCA contar TUDO.

CTRL+V. ENTER.


Mesmo assim ainda dói a lição.
Não na mão.

5 de novembro de 2009

Em crise

Como os dias que nascem azuis e então ficam nublados
ou vão de nublados, chuvosos a azuis
Como o pula que pula e roda que roda e tudo que fica de cabeça pra baixo
e tudo que oscila e é bom e ruim
e como o meio, sem início, sem fim
E como as histórias que são mal contadas
e como as viagens passadas dormindo
Como tudo que muda em questão de segundos
É como tem sido pra mim.

29 de outubro de 2009

46

46 e-mails não lidos em minha caixa de entrada
46 dias na contagem regressiva para minha viagem

o primeiro sofrerá adição,
o segundo sofrerá subtração.
e nada sofrerá nada quando os dias forem 0 e os e-mails forem vários, acumulados, esquecidos,
nada sofrerá nada
e será a paz.

13 de outubro de 2009

Pra que mesmo eu preciso de um diploma?

Eu queria gritar
mas gritar tão alto
que o som vibrasse meu corpo todo
e, num chacoalhão, eu sumisse,
virasse luz
ou pó.
Porque aqui não tem lugar pra mim.

5 de setembro de 2009

Metereologia

O dia nublado que foi hoje não teve porquê. Não teve graça.
Não porque foi nublado, mas porque não tem porquê ter um dia nublado sem você.
Dias nublados de ficar em casa e assistir filme,
assistir qualquer coisa na tevê.
Dias nublados de ficar enrolado,
um dentro do outro,
encaixar pra caber.
E todo sofá fica grande, de tanto que a gente se aperta
porque o que a gente tem é saudade do cotidiano que a gente não tem.
E a nossa maior certeza, entre todas as coisas incertas,
é que os dias nublados são feitos pra ser agarrado por quem se quer bem.

26 de agosto de 2009

A vó(z) do espelho diz:

Porque um dia os problemas de hoje vão parecer pequenos. Como parecem pequenas as lágrimas que você chorou quando estava na escola e se achava burra por não entender a aula de física, ou como quando um dos gêmeos que você paquerava não te deu a mínima e você achou que nunca mais ia amar ninguém na vida. Hoje você nem sabe ao certo qual dos gêmeos era o que você gostava, né?
Vai passar, minha filha... É um momento como outro qualquer. Que agora significa muito para você. Não escreva cartas de despedida, porque você não está partindo senão para a imensidão de si mesma.
Mas não fique querendo saber quem você é ou qual seu papel na vida. Apenas acorde, se alimente, siga em frente. Não se canse, não se irrite sem motivo. Um dia você terá um emprego, uma família, mas ainda não tem. Não os lamente. Viva seu momento, Carolita.














Parece que eu fiquei em algum outro lugar.

13 de agosto de 2009

The shortest tale ever

C: I've been here before.
And I don't like what I see.

MIRROR: Is it really the same place, Carol?

C: I don't know. Sometimes it seems like it.
What if it isn't?

MIRROR: If it isn't and you act as if it was...it might become.

C: No.
No!
...
Is it possible that a place looks the same on the outside, but it's different on the inside?

MIRROR: Yes. I think.

C: Then I'm coming in.


And she walked in. She was shaking, but kept walking. Deep inside she knew this was a whole different place. And she wanted to be there. More than anything.

10 de agosto de 2009

Tobogã

Eu tinha medo de descer do tobogã. Aí você veio e me empurrou do tobogã. E eu tô descendo assim, até porque não tem nada que eu possa fazer, né?
Mas eu fico é pensando se você vai estar na piscina pra me pegar, porque, você sabe, eu não sei nadar. E eu não queria me afogar... de novo...
Eu estava lá em cima, com medo, mas a salvo. Uma hora eu ia descer, mas você me empurrou e eu não estava pronta! E é por isso que estou com um pouco de falta de ar. Mas eu gostei do toque das suas mãos nas minhas costas. Vai ser ainda melhor se você estiver lá embaixo. O medo vai passar. Estou me entregando ao azul.

22 de julho de 2009

29 de julho de 2009

A letra dessa canção

Pode ser que essa música seja mentira
pode ser que essa história não tenha acontecido jamais
Mas um eu-lírico cantou
e eu gostei de ouvir
E vou ouvir sorrindo até que ela pare de tocar
por um motivo qualquer - que não importa
O que importa é o hoje e os sonhos que ele me inspira a cantar

25 de julho de 2009

Azul

Meu Deus do céu,
que azul é esse
onde o Senhor mora?!
Que azul é esse
desse céu das quatro horas?
As nuvens lá em cima a passar
e eu aqui pequena e nua a me perguntar
se o céu sempre foi assim tão belo
se o azul sempre foi assim tão cielo
E eu queria mostrar pro mundo inteirim
mas parece que esse azul é só pra mim.

24 de julho de 2009

Carinho especial

Tudo que ela quer é desenhar na pele
Com os dedos ir tocando a pele dele
Imprimir imagens tantas pra lembrança
Tantas quantas tornem mente e pele presas

Cada toque é imagem que desperta
cada poro e pêlo desse corpo dele
E o despertar dessa pele o adormece
E ele brinca e pinta pelos sonhos dele

Como a pele se renova dia-a-dia
sempre mais quer desenhar ela por ele
São dois corpos fazendo arte em amor
É ternura a encher noites inteiras

22 de junho de 2009

Sobre seu pai

Sabe, minha querida, o moço que seria seu pai teve o sorriso mais lindo do mundo. E um nariz encantador. Ele era um grande amigo e gargalhava tão gostoso... Ele seria seu pai, te levaria para a Igreja, te levaria para o exterior. Ele te ensinaria Inglês e falaria sobre plantas e como funciona o corpo humano. Ele seria um homem vestido de branco quase todos os dias, um homem íntegro, com o sorriso mais lindo do mundo. Ele te contaria histórias e você o veria ser romântico com a sua mãe e carinhoso com a mãe dele.
Antes dele não houve e jamais haverá sorriso mais lindo, nariz mais encantador, gargalhada mais gostosa e amigo mais verdadeiro.
Mas a sua mãe perdeu o seu pai antes de você nascer, antes de ela o conhecer, antes que a gargalhada mais gostosa do mundo parasse de soar nos nossos ouvidos.

2 de junho de 2009

Vazio

A perna amputada coça.

Está no banho cantando,
está inventando nomes pra mim
e sorrindo.

Meu tio morreu.
Meu tio morreu.
Meu tio morreu.

E se eu disser isso oitocentas e quarenta e seis vezes,
vai se tornar verdade?
Porque agora é troça.
Só pode ser.

A perna amputada coça.

26 de maio de 2009

Sobre o amor-palavra e o amor-amor

Amor-palavra faz eco.
Amor-palavra é mantra e sermão.
É lindo de ouvir, mas soa, soa, soa
e acaba.

Amor-palavra...

Amor-amor é ação.
É abraço, comida e cobertor
e um encaminhamento-devidamente-acompanhado-para-que-não-páre-por-aí-mas-que-gere-mais-frutos-doces-doces-como-néctar-e-se-espalhe-pelo-mundo-de-modo-a-não-mais-se-chamarem-cristãos-e-muçulmanos-mas-apenas-vivendo-no-amor

que é Deus.

Amor-amor é o caminho.
Amor-amor é a verdade.
Amor-amor é a vida.

Mas isso tudo ainda vai ser só amor-palavra,
se eu não fizer nada.

18 de maio de 2009

Bolha

A bolha minha é bolha grande,
bolha fosca

E dentro dela eu vivia feliz entre lágrimas e cachaças,
entre canções sertanejas e saltos finos
Meu cabelo cheirava queimado, mas estava liso
Eu comia miojo, mas incrementava com milho
Tinha sinceras preocupações: acadêmicas e sentimentais.

Hoje isso tudo é música, que dispara os sentidos quando escuto.
Mas eu só sei cantar o refrão.
A bolha tem parede seletiva, como aquela coisa das células, como era mesmo?

A bolha de hoje tem outros elementos,
mas continua bolha.
Porque eu nasci numa família de classe média,
porque meus amigos são de classe média,
porque eu estudei em colégio particular,
porque eu recebi muito amor,
porque eu escolhi cuidar do meu corpo e espírito.

Pela parede fosca eu vejo outras bolhas,
e elas são tão diferentes!
Sonho um contato, mas é difícil sair de casa.
Há vida lá fora, mas que língua eles falam?

Que num futuro próximo a bolha tenha pontes citoplasmáticas,
ou qualquer que seja a estrutura a permitir trocas,
porque eu abandonei a biologia,
mas estou falando é de amor.


E perto da horta da Vó
Maria Fernanda e Andrezinho colhem bolhas de sabão.

17 de março de 2009

Oração noturna

Se o toque não toca
Me molho com lágrimas
Salgadas de mar e de si próprias.
ExpectATIVAS são passivas
E na taquicardia busco respostas.
Durma do lado direito
Carregue-me no esquerdo
E dê-me um filho esta noite.
Conte-me histórias futuras
onde eu ouça meu nome
ou afogue-me hoje ainda
sendo este o final feliz.

28 de janeiro de 2009

Findo o livro

Romance é um livro que a gente gosta.
E, quando sente poucas páginas na mão direita, dá um aperto no peito. Está acabando...
E acaba.
(...)
Vazio.

Se recorda palavras, pode-se até lê-lo outra vez, mas não é o mesmo. Já se sabe como vai ser.
Romance é um livro lindo, que, como todos, tem fim.
Mas que delícia é ler livro assim!

22 de janeiro de 2009

So-om

À dona das palavras
restou o silêncio
Das mãos, nada mais sai
Dos lábios, uma voz feita de ar
que não se comunica em línguas humanas
Vibra
E a onda mecânica
é luz
E até o silêncio do oco
é som
E a dona das palavras,
de página vazia,
está cheia de canções.