25 de julho de 2008

Saudade

Estou naquele momento quando, de olhos abertos, não mais é possível ver. Mas continua aqui, tocando. Regendo cada canto.
Te vejo sorrir, até que meu olhos cegam, e só voltam a ver quando transbordam as lágrimas.

Este é um choro de saudade.
É um choro órfão.

Você continua vivo em cada uma dessas canções que dividimos. Me perdoe por eu não poder cantá-las sem que minha voz embargue. Um dia, talvez, eu consiga. Mas, por enquanto, só posso chorar sua ausência.

9 de julho de 2008

Testrálios

Naquela noite, choro.
De madrugada, pesadelo.
Na tarde de ontem, choro.
Esta noite, pesadelo.

Ela, que nunca quis ver testrálios.
Não os vê, mas sabe que poderia
agora que na retina há morte.
Nem todas as lágrimas que vertem limparão essa imagem.

1 de julho de 2008

Part-ida

É que quase me vou embora
Num suspiro, quase flutuo
Leve, leve
Me leve!
Fotografias e leituras me atraem
para um dia que não é hoje
para um lugar que não me pertence
para um sonho.
E cada dia conto menos um dia.
E cada dia tem menos de mim aqui.

Se não for justo com quem fica?
Perdão.
Mas nunca pertenci a lugar nenhum.
E onde estou é sempre ponto de partida
para os vários abraços que darei no mundo
até amá-lo por inteiro.

Se volto?
Como voltar se nem sei de onde parti?

Eu sou todas as partes de mim
as que querem ficar
e as que querem ir

E ajunto outras partes pelo caminho.
Por isso não volto.
Carrego o que preciso.
Vou de encontro ao que preciso.

Vou de encontro ao impreciso.

Dulce...

Ela acordou como se tivesse ouvido algo. Como se chamassem seu nome. Mas tudo estava quieto - na medida do possível, afinal, hoje em dia é difícil afirmar haver silêncio em qualquer lugar. Quer horas seriam? Ainda estava tudo escuro e a única lâmpada de seu quarteirão iluminava o quarto e fazia seus olhos extremamente abertos e atentos refletirem-se no espelho. Por um instante, assim que despertou, ela pensou que aqueles olhos pertenciam a outra pessoa. Talvez do dono da voz que a chamara.
Aos poucos se acalmou e foi afrouxando a atenção colocada nos ouvidos. Deve ter sido algum barulho na rua. Ou um sonho. Algumas vezes os sonhos se confundem com a realidade. Por isso crianças pequenas molham suas camas, por isso crianças maiores fazem planos, por isso os adultos vão aos psicólogos.
Sem saber do que se tratava, voltou a dormir. Adormeceu ainda querendo ouvir aquela voz. Ela conhecia aquela voz. Queria que não fosse sonho.
Na mesma semana, aconteceu novamente. Acordou sabendo que era chamada. Não podia ser sonho. Pelo menos não um sonho seu. Ela ainda se lembrava que, no instante em que ouviu "Dulce!", estava a sonhar com a prova que faria na manhã seguinte. Não fazia sentindo ouvir seu nome sendo chamado por aquela voz no meio daquele sonho. Definitivamente, não era sonho. Ao menos, não era um sonho SEU.
Alguns dias depois, o dono da voz que Dulce ouviu, lhe enviou uma mensagem dizendo que sonhara com ela duas vezes naquela semana. Então realmente não tinha sido um sonho dela. Fora ele quem sonhara. E Dulce sentira. Por que estavam assim ligados? E o que significaria aquela ligação? Quantas outras vezes aconteceriam chamados assim?
Dulce tem agora os olhos fixos no nada. Será que deveria comentar com alguém? Será que deveria ir ao psicólogo? Não. Isso vai passar. Ligações só são mantidas se a corda estiver firme dos dois lados. Então a corda ESTAVA firme. Ainda. Mas vai passar. Não vai? É melhor que passe... Ou não é? Ela se sentia presa e, ao mesmo tempo livre. Confusa, portanto.
Dorme, Dulce. Fecha esse olhos doces. Fecha os ouvidos. E corre, Dulce, corre. Dormindo ou acordada. E, para onde quer que corra, mantenha os braços abertos. Para você, não há sentido errado. Não há, sequer, SENTIDO.