26 de maio de 2009

Sobre o amor-palavra e o amor-amor

Amor-palavra faz eco.
Amor-palavra é mantra e sermão.
É lindo de ouvir, mas soa, soa, soa
e acaba.

Amor-palavra...

Amor-amor é ação.
É abraço, comida e cobertor
e um encaminhamento-devidamente-acompanhado-para-que-não-páre-por-aí-mas-que-gere-mais-frutos-doces-doces-como-néctar-e-se-espalhe-pelo-mundo-de-modo-a-não-mais-se-chamarem-cristãos-e-muçulmanos-mas-apenas-vivendo-no-amor

que é Deus.

Amor-amor é o caminho.
Amor-amor é a verdade.
Amor-amor é a vida.

Mas isso tudo ainda vai ser só amor-palavra,
se eu não fizer nada.

18 de maio de 2009

Bolha

A bolha minha é bolha grande,
bolha fosca

E dentro dela eu vivia feliz entre lágrimas e cachaças,
entre canções sertanejas e saltos finos
Meu cabelo cheirava queimado, mas estava liso
Eu comia miojo, mas incrementava com milho
Tinha sinceras preocupações: acadêmicas e sentimentais.

Hoje isso tudo é música, que dispara os sentidos quando escuto.
Mas eu só sei cantar o refrão.
A bolha tem parede seletiva, como aquela coisa das células, como era mesmo?

A bolha de hoje tem outros elementos,
mas continua bolha.
Porque eu nasci numa família de classe média,
porque meus amigos são de classe média,
porque eu estudei em colégio particular,
porque eu recebi muito amor,
porque eu escolhi cuidar do meu corpo e espírito.

Pela parede fosca eu vejo outras bolhas,
e elas são tão diferentes!
Sonho um contato, mas é difícil sair de casa.
Há vida lá fora, mas que língua eles falam?

Que num futuro próximo a bolha tenha pontes citoplasmáticas,
ou qualquer que seja a estrutura a permitir trocas,
porque eu abandonei a biologia,
mas estou falando é de amor.


E perto da horta da Vó
Maria Fernanda e Andrezinho colhem bolhas de sabão.