30 de outubro de 2008

Vazio

Procuro lugar que me caiba.
Que me faça sentir em casa.

Tanto disse não pertencer,
que acabei nada possuindo.

Agora o dia se divide em vários
Mudanças súbitas de humor
E como pode tanto vazio
encher assim uma vida?

Já não sei o que é melhor:
ser feliz sendo pequeno
ou sofrer para crescer.

Me acostumei ao cômodo.
E agora?

Não é mal nenhum preencher para que não doa.
Mas e quando não há com que preencher?
Vazio...
Vazio...
Vá!

23 de outubro de 2008

Conselho aos que sofrem por amor II

- Ai, minha filha, de novo essa história?
Já não te disse algumas vezes?
Amor é coisa que a gente fica procurando onde colocar. E fica tenso se não tiver esse lugar. Ele se realiza numa pessoa, num trabalho, numa causa social... Aquilo que move a gente, aquilo pelo que a gente diz ter paixão.
Aí a moça diz que tá morrendo de amor, mas tá morrendo é de não ter onde botar o amor. A pessoa amada se foi, mas o SEU amor tá aí, minha querida. Coloca ele em outra coisa. O seu amor é só seu. O meu é só meu. É gostosa a sensação de estar dividindo alguma coisa... Mas a gente só quer amar. Da forma que for. O que quer que seja.
Se ninguém vai receber seus bilhetinhos de "Eu te amo", diga pra você mesma, diga pra sua família! Se você quer agradar alguém com um bolo, agrade os vizinhos, as crianças... Sempre tem gente querendo receber uma parcela dessa amorzão que você fica achando que tem que despejar em cima de um só infeliz, um homem.
Não é por aí, e já te falei.
Você quer é a sensação de amar. Não é?
Então troque seu amor de lugar. Passe de um objeto de afeto pra muitos outros. E não se engane de novo, dando tanto do seu sentimento, do seu tempo, dos seus pensamentos, a uma só pessoa... Viver a dois é gostoso, mas viver em comunidade é melhor. A comunidade permanece quando o dito cujo te esquece.
Veja bem se aprende agora, filha.

- Tá, Vó...

21 de outubro de 2008

Fim

Eu disse: mais nenhuma lágrima!
Eu disse: nenhuma palavra!
Eu disse pra mim e pros outros.
Mas eu menti, sem saber.

Estão aqui as últimas palavras.
Em minha face, as últimas lágrimas.
No banho serão lavadas
e sumirão, assim como você.

Lavo.
Lá vou.
Porque EU não tenho medo.

Lavai.
Lá vai
e não volta mais tão cedo.

17 de outubro de 2008

Pra preencher

- Ficar em casa não está com nada; o bom é sair. (Quando não se tem mais nada verdadeiro na vida)

-Não é que eu não queira ir. Festas são legais. (Quando não se tem mais nada verdadeiro na vida)

Quando não se quer ir
nem se quer voltar
Quando não se pode ficar onde está
Quando não se tem nada verdadeiro na vida

O que fazer, então?

16 de outubro de 2008

Enjôo

se o cheiro da comida salgada me enjoa
e já estou enjoada de comer doce

starve,

enjoada!

Adeus

Quer saber? Estou bem melhor agora.
Tranqüila.
Você se foi.
Não doeu.
Não dói.
Há um encômodo.
Coisa de articulação.
Que vai passar.
Só isso.
Onde você estava ficou um buraco,
mas está fechando. Tão rápido! E indolor!
Amanhã isso não é nem assunto pra poesia.

Adeus, siso.

11 de outubro de 2008

Chore

Finja, pra quem você quiser, que é forte.
Minta que passou, que entende que assim é melhor.
Engane-se, falando que está pronta pra essa nova fase.
Mas quando o pano cair, você caíra junto.

Não adianta morder os lábios, nem enrugar a testa. As lágrimas continuarão caindo.
Sim, você se acha burra. Mas te digo que é apenas precipitada.
Em tudo. Em todas as decisões.
Não aprendeu ainda a entender sua volatilidade?
Custa tanto assim esperar?
Não era você quem dizia que as coisas se encaminhavam?
Por que tenta, agora, carregá-las para onde você julga melhor?

Chore, chore muito.
Escondida, se preferir.
Mostre-se uma leoa, continue a faculdade, continue a viver.
Ocupe-se.
E esqueça.
E que seja logo, pois você está sozinha.
SOZINHA.
E ninguém se importa com sua dor.
Se te virem chorando, te abraçarão. Mas não sentirão doer junto.
Só o seu mundo quebrou. O de todo mundo continua.
Então cuide-se sozinha.
(Ou morra de chorar)

E aprenda. Pelo amor de Deus, Carolina, aprenda alguma coisa!

10 de outubro de 2008

Manual 1: Biologia

Geração espontânea:
Fotografia -> sorriso -> lágrima.

Cadeia alimentar:
Lágrima -> sorriso -> fotografia.

Ciclo biológico:
Sorriso -> fotografia -> sorriso -> lágrima -> música -> lágrima -> sorriso -> fotografia -> ...

9 de outubro de 2008

Como arroz

É que nem fazer arroz.
A gente não tem muita noção se vai dar certo.
A gente nem sabe se quer comer arroz.
Mas um dia tinha que aprender a fazer.
E eu fiz o que achei que era preciso.
Na hora que julguei melhor, joguei a água fervendo.
Respingou e doeu.
Mas o arroz ia sair!
E todo mundo ia ficar feliz, depois, de barriga cheia.
O arroz absorveu a água, inchou, parecia bom.
Eu dei uma garfada e pensei:
"Não era esse o gosto que eu estava imaginando que teria..."

É assim que tenho me sentido o dia inteiro.
Não pediu? Agora come.
Ficou o mês inteiro falando que queria arroz, que tinha que aprender a cozinhar. Então come. E come quieta, Carolina.
Ah, e se chorar, o gosto piora.

3 de outubro de 2008

O Todo

Eu sou todas as partes de mim espalhadas pelo mundo afora.
Espalhadas por lugares onde eu não estive.
Partes agarradas a partes de outros, que não existem.
Eu sou pedaços de histórias que não tiveram fim.
E das quais não tenho lembrança do início.
Eu sou partes eternas do que pensava esquecido.
Sou tantos pedaços que não me dizem nada, mas gritam o tempo inteiro, me lembrando de sua existência.