20 de novembro de 2008

Manual 2: Os tipos de memória

Memória sensorial:
a pele gritando quando o abraço, que demorou além do normal por motivo de ( )desejo / ( )lembrança, termina.

Memória corporal:
o corpo realizando coreografias, quase involuntariamente, daquilo que já dançou um dia.

Em memória de:
querer oferecer escritos para acarinhar com palavras.

Imemoriais:
tempos remotos demais para que se saiba onde foi que tudo começou.

Memória de galinha:
pedir que repita.

16 de novembro de 2008

Diálogo nas entrelinhas II - Parte II

- Você não me pediu pra voltar pra ver o carro... Desistiu de consertar?

- Eu dei o carro. Andar à pé está me fazendo bem.

Essa semana eu já peguei chuva.
A chuva que cai no centro podre é limpa.
Ela não limpa o centro,
mas me limpa.
Poluição sentimental esgoto abaixo.
Se eu estivesse de carro, não teria sido assim.
Poluição sentimental ao ferro velho.

Vira arte, que eu te observo de longe.
Vira arte, que eu te componho e canto.
Vira arte, que eu te entendo.
Vira arte em minhas mãos, que disso faço o que eu quiser.

13 de novembro de 2008

Agora que acabou

Eu teria te amado pra sempre. Com um amor falso, talvez, mas intenso. Teria sido eterno. Eu teria te chamado de Pequeno, Anjo, Lover, Bem, Coração, Bonito e de todos os outros nomes que ainda usarei. Todos eles seriam pra você, não tivessem se repartido pelo mundo.
Você teria sido meu único amor. E eu viveria pra sempre ao seu lado. E saberia que era a mulher mais feliz do mundo.
Eu teria te amado tanto... Aliás, eu te amei tanto. Só não foi pra sempre porque... ah, não importa. Acabou e eu acabei tendo que parar de amar. Porque, antes de te amar imensuravelmente, eu sempre me amei.
Mas, ah, como eu queria ter te amado pra sempre...
Teria sido lindo.
E eu teria sido a mulher burra mais feliz do mundo.

6 de novembro de 2008

Chá?

Obrigada, já me basta.
E não entendo como você ainda pode beber mais desse chá. Não acabou de dizer que estava amargo? São outras mãos que o preparam, é certo, mas é o mesmo chá. Bebe com essa boca boa, como se o fato de não ter a xícara vazia já te bastasse.
Não, obrigada. Eu quero chá de verdade, preparado para mim, com carinho. Eu não quero que me dêem chá-falso. Prefiro, antes, chá-MATE!
Delicie-se em ver sua xícara cheia. Beba, engasgue, se embriague até. Mas saiba, vai amargar novamente. Porque, você pensar que bebe chá, não transfigurará a água podre que está diante dos seus lábios.

4 de novembro de 2008

Diálogo nas entrelinhas II - Parte I

- Então, será que dá pra você consertar pra mim?

- Deixa eu dar uma olhada. (...) Nossa, o que você fez com esse carro?

- Ah, você sabe como é, né.. A gente vai judiando e, quando vê, já está assim... Eu costumava sair com pressa, irritada, e batia a porta. A caixa de marcha também deve estar bem ruinzinha, porque eu às vezes esquecia de pisar na embreagem. E aí mês passado eu acabei batendo, porque não estava prestando muita atenção no que tava fazendo...

- Mês passado? E só agora você me chamou pra olhar?

- Bem.. Eu achei que podia tentar consertar sozinha.. Sabe?

- Menina, pelo que você tá falando, nem sabe dirigir direito, e ainda quis consertar o carro?? O que você fez?

- Então, eu dei uma mexida no motor... Tinha dia que até saía fumaça. Eu deixava quieto uns dias e depois voltava a mexer... Mas não deu não. Por fim, não tava nem ligando mais. Aí por isso eu te chamei aqui.

- Santo Deus...

- Tem conserto?

- Olha. Eu posso tentar. Mas vai demorar um pouco.

- O tempo que for preciso. Eu gosto muito desse carro.

- É? Não parece. Pelo jeito que você trata ele.

- Mas eu não sabia que ele ia fazer tanta falta. Esses dias tendo que andar de ônibus estão sendo péssimos!

- Faz o seguinte, eu vou passar aqui todo dia pra dar uma mexida. E você nem chegue perto do automóvel, viu??

- Mmm.. Tá...

- Você já fez estrago demais por aqui. Agora deixa comigo.

Ela pensa: "É tão difícil apenas confiar. Sem agir... Mas acho que ele sabe melhor que eu o que está fazendo, né?..."