1 de julho de 2008

Dulce...

Ela acordou como se tivesse ouvido algo. Como se chamassem seu nome. Mas tudo estava quieto - na medida do possível, afinal, hoje em dia é difícil afirmar haver silêncio em qualquer lugar. Quer horas seriam? Ainda estava tudo escuro e a única lâmpada de seu quarteirão iluminava o quarto e fazia seus olhos extremamente abertos e atentos refletirem-se no espelho. Por um instante, assim que despertou, ela pensou que aqueles olhos pertenciam a outra pessoa. Talvez do dono da voz que a chamara.
Aos poucos se acalmou e foi afrouxando a atenção colocada nos ouvidos. Deve ter sido algum barulho na rua. Ou um sonho. Algumas vezes os sonhos se confundem com a realidade. Por isso crianças pequenas molham suas camas, por isso crianças maiores fazem planos, por isso os adultos vão aos psicólogos.
Sem saber do que se tratava, voltou a dormir. Adormeceu ainda querendo ouvir aquela voz. Ela conhecia aquela voz. Queria que não fosse sonho.
Na mesma semana, aconteceu novamente. Acordou sabendo que era chamada. Não podia ser sonho. Pelo menos não um sonho seu. Ela ainda se lembrava que, no instante em que ouviu "Dulce!", estava a sonhar com a prova que faria na manhã seguinte. Não fazia sentindo ouvir seu nome sendo chamado por aquela voz no meio daquele sonho. Definitivamente, não era sonho. Ao menos, não era um sonho SEU.
Alguns dias depois, o dono da voz que Dulce ouviu, lhe enviou uma mensagem dizendo que sonhara com ela duas vezes naquela semana. Então realmente não tinha sido um sonho dela. Fora ele quem sonhara. E Dulce sentira. Por que estavam assim ligados? E o que significaria aquela ligação? Quantas outras vezes aconteceriam chamados assim?
Dulce tem agora os olhos fixos no nada. Será que deveria comentar com alguém? Será que deveria ir ao psicólogo? Não. Isso vai passar. Ligações só são mantidas se a corda estiver firme dos dois lados. Então a corda ESTAVA firme. Ainda. Mas vai passar. Não vai? É melhor que passe... Ou não é? Ela se sentia presa e, ao mesmo tempo livre. Confusa, portanto.
Dorme, Dulce. Fecha esse olhos doces. Fecha os ouvidos. E corre, Dulce, corre. Dormindo ou acordada. E, para onde quer que corra, mantenha os braços abertos. Para você, não há sentido errado. Não há, sequer, SENTIDO.

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