30 de junho de 2008

Saudade vermelha (7 de fevereiro de 2008)

Porque saudade não é lembrança.
Ah, não. Mera lembrança não traz esse aperto.
Saudade não é vontade.
Vontade passa - ou porque sabe-se certo o encontro ou porque esquece-se o pensamento. Saudade não passa. Ou custa.
E aí a gente acorda e a roupa de cama cheira urucum. Urucum tem cheiro? Sim, para mim. Urucum tem um cheiro doce, cheio de mar, de vento, de ar, de falta de ar.
E o cheiro invade os pulmões e os alvéolos e faz hematose, indo, pelo sangue, ao cérebro, revivendo todas aquelas lembranças. E o corpo todo se contrai. Lembrança passa a ser saudade.

Por que saudade não é lembrança?
Melhor seria saber data para o reencontro. E sentir ansiedade, sentir falta, sentir saudade esperançosa. Mas saudade assim, sem o mínimo indício de rever, é apertada como espartilho.

Eu quero o cheiro que me deixa com a pele vermelha. Eu quero o urucum que passa de um corpo para o outro.

No meio de tanta poluição, sentir o cheiro de um príncipe
Ela sabia que seria assim
O perguntara um dia antes
Ele dissera que sim

Como pode, doce aroma
quilômetros atravessar
E, sem a mínima licença,
em seu quarto penetrar?

O vermelho que não toma forma
Sentir o toque de dentro pra fora
E ansiar pelo tato transmutante
não no futuro, mas agora

Lhe é permitido sonhar?
Fora assim invadida
Sinapses a desejar
Didgeridoos pelo resto da vida.



Quero a fuga para o universo paralelo que enviou aquele ser.


Comentários feitos lá naquele blog:

11.02.2008 Bom, hein?! Dorei! Deveras! Agora quero mais! E mais! E Mais...
Danilo

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